Vamos morrer

Crónica+Desenho Luís Brito

A primeira vez que tive um ataque de pânico foi há 3 anos. Havia tomado LSD. De repente, o  debaixo das mamas coração desgovernava-se como um país. Respirar sabia a impossibilidade e tinha dormências em cada um dos 20 dedos que deus me deu. De repente, estava obcecado com a morte, com a doença, com a fragilidade. Tinha a absoluta certeza de que ia morrer ali, naquele momento e para sempre. Alguns de vós sabem a que sabe este episódio. Outros para lá caminham ou, como veremos, caminhavam. 

Passo a definir: um ataque de pânico é o que acontece quando o nosso sistema nervoso deixa de aguentar a ansiedade que em nós se grava e agrava. Um ataque de pânico é uma gota de água, um corpo a gritar que os níveis de nervosismo ficaram insuportáveis, um lugar-limite que é um sistema nervoso a dar de si. O LSD disparou o meu ataque de pânico, mas não foi ele quem o causou. O problema eram os meus problemas, a carga, os traumas, o estar em sociedade, o estar em família, o esquecer-me das verdades pois acreditava nas mentiras. Nem toda a gente toma LSD, porém, pouca é a gente que toma açúcares e hidratos, álcool, fumo, dinheiro, pressão, ambição, notícias (lol), psicopatia, ganância e delírios vários, coisas que temos como vida mas que na verdade são morte. 

Depois do ataque de pânico, quando ele se acalma, deixamos de julgar que vamos morrer, para saber que vamos morrer. Novidade: vamos morrer talvez hoje, um dia seguramente, e quando incorporamos isto, de dentro para fora, aprendemos taxativamente a não mais viver como tontos iludidos, também conhecidos como iluminabos. Mudamos de mentalidade, mudamos de estilo de vida. O que tivemos, neste ano e neste mundo, foi um ataque de pânico colectivo: uma repentina e patológica obsessão com a vulnerabilidade, que na verdade é um ataque de consciência. Todo este lol está a acontecer porque a maneira como vivemos e nos (não) relacionamos deixou de ser viável, sustentável, lógica ou contínua. Tivemos um ataque de pânico colectivo. E um sintoma é um amigo, que vem falar de uma mudança profunda. 

Enjoy the show, dear mortals.  
Vamos morrer 
E isso é lindo.