Bombas que não explodem

Escultura Simão Palmeirim

Estes artefactos de interminável rastilho ilustram uma das expressões mais recorrentes do período de confinamento: “por tempo indeterminado”. Grande parte da nossa normalidade foi subitamente alterada, de múltiplas formas, por tempo indeterminado. Se lembrarmos anto Agostinho na visão do tempo como “distensão da alma”, o impacto dessa indeterminação é também um impacto directo nas nossas expectativas permanentes de controlar, definir e delimitar, não só o nosso tempo, ou espaço, como acima de tudo aquilo que nos anima interiormente. A indeterminação deste tempo não é só a incógnita sobre a duração do confinamento, é o estreitar da fronteira entre expectativa e ansiedade. É mais uma compressão da alma que o contrário. 

Acender o rastilho de uma destas bombas pode ser a decisão de sair, abraçar, beijar. Pode ser também a tomada de consciência da espera.Esperamos pela normalidade? Que normalidade? A que estava repleta de rastilhos já acesos?