Passos perdidos

Fotografia Alberto Picco

Eu, como fotógrafo, não ouço as histórias das pessoas, mas das paisagens e dos lugares, das árvores e dos edifícios, que têm muito a dizer sobre nós e a nossa civilização.

A minha contínua observação da cidade sofreu uma paragem abrupta, aliás como tudo o resto a que estava habituado neste contemporâneo vai e vem.

No último fim-de-semana anterior à ordem de confinamento, devida à pandemia universal do Covid19 (princípios de março de 2020), ainda consegui realizar alguns apontamentos visuais de Lisboa e dos lugares e paisagens sobre os quais me vou debruçando. Notas essas em que a cor, estando ainda explicita, permite já vislumbrar um afastamento.

Nas semanas subsequentes e durante 45 dias, a paisagem que me rodeia transforma-se num preto e branco contido e triste.

Apesar de continuar a retratar a cidade, uma parte dela, suburbana, os apontamentos realizados dizem respeito às poucas deslocações que me são permitidas em situação de estado de emergência e confinamento obrigatório. Uma ida à procura de bens alimentícios, ou à farmácia, ou à bomba de gasolina. Ou então um breve passeio “higiénico” à volta de casa.

Hoje já me permito voltar a ver as cores do meu entorno urbano, as imagens do parque verde que tenho ao pé de mim são disso testemunha. 

Este estado de espírito no meu pensamento permite-me sonhar com uma realidade, se não de regresso àquela perdida, pelo menos de outra menos concentracionária.