Torpor.
Torpor.
Torpor.
Tür, porta em alemão.
Pôr.
Pôr.
Pôr a mesa.
Pôr a cama.
Pôr o dedo. Na ferida.
Tur.
Turismo.
Porismo.
Ismo.
Torporismo.
Turismo, uma digressão para dentro.
Tour de France.
Tour de Force.
Torpedo!
Turbo rápido.
Tudo pode correr mal.
Descobrir o caminho mais directo entre o sofá e o tecto.
Descobrir o caminho mais directo entre o sofá e o tecto.
Torpor.
Pôr tudo no sítio.
Pôr tudo no seu lugar.
Pôr tudo em pratos. Limpos.
Torpor.
Turvo torpor (a névoa no sofá).
Turbo torpor.
Porvir. O porvir.
O porvir vem devagar.
O porvir bem devagar.
O porvir vem depressa.
O turbo porvir.
O rápido porvir.
Descobrir o caminho mais directo entre o sofá e o tecto!
Ir dar uma volta.
Uma volta eu quero ir dar.
Um tour, para dentro, sem guia.
Entre o sofá e o tecto!
Pôr tudo em casa.
Pôr tudo em causa.
Pôr a mesa!
Pôr a cama!
Pôr a poltrona!
Pôr a cómoda!
Pôr o psiché!
Pôr tudo.
Pôr nada.
Por tudo e por nada.
Tür, porta em alemão.
Pôr o nariz de fora da porta, de todas as portas.
“Quem mora na minha cabeça?”
Pôr entre aspas.
“Quem mora na minha cabeça?”
Pôr Paris no mapa.
Pôr a Guarda no mapa.
Oeiras no mapa.
Pôr a minha casa no mapa.
Pôr o meu sofá no mapa.
Pôr-me no mapa.
Pôr o tecto no mapa.
Pôr o poema no mapa.
Pôr o mapa no mapa.
Atroz turismo.
Hotel turismo.
Torpor.
Um turvo torpor.
O tempo: lento labor do bolor.
Lento.
Labor.
Do bolor.
Não ponho as mãos no fogo.
Não ponho as mãos no fogo pelo fogo.
O caminho mais directo entre o sofá e o tecto.
Mago do inacabado!
Torpor.
Quase morte.
A pequena morte.
A parede branca.
O tecto branco.
A vida branca.
Torpor.
Um tour para dentro.
Todas as datas esgotadas.
Podem abandonar a composição.
Prometemos ser breves.
Este T O R P O R foi escrito em 2018, para ser lido por mim na sessão 28 do ciclo Contradizer da Associação Cultural Calafrio, a 23 de Dezembro desse ano. A sede do Calafrio fica na Rua do Futuro, Rio Diz, às portas da Guarda. A Rua do Futuro, curiosamente, não tem saída. Ou melhor, saída todas as ruas têm: o alcatrão acaba e outro mundo começa. O rio Diz, esse, praticamente não tem água (e nem sequer fala).
Em 2018 mal poderia imaginar como esta espécie de mantra/refrão – “Descobrir o caminho mais directo entre o sofá e o tecto” – ia ganhar toda uma nova ressonância em 2020. Assim como esse “turismo, uma digressão para dentro”. Torpor. É uma bela palavra.
(Foi, entretanto, publicado também no nº 3 da revista A Morte do Artista, publicado em Maio de 2019)