Alienopolis

Desenho+Prosa poética Luís Carmelo

Valu (Muça) em construção.

O que o desenho deixa à mostra não é o que eu vejo.

Seja como for, existe uma condimentação ou, se se preferir, uma proporção entre agricultura, habitação, terciário, indústria e zonas apenas de passagem. 

Tomo o pulso aos bairros mais sossegados e reconheço perfeitamente onde o bulício deverá percorrer as aragens. O olhar faz enfolar as cartolinas. Os nomes surgem quando desenho e depois ficam registados no esquecimento.

Confesso que não vejo quarteirões, alamedas, pontes, faixas de rodagem, ajardinados ou praças, mas apenas um acervo por preencher. O traço avança a conta-gotas. Há sempre um esboço de caminho.

O que vejo confunde-se com a inversão total daquele sonho de Descartes, conhecido por Mathesis Universalis, no fundo uma ciência que fosse capaz de explicar tudo o que pudesse respeitar à quantidade e à ordem. 

Pirâmide arrevesada como aquela música que Bach ouviria na sua própria cabeça, antes de compor. Não era certamente o que se escutava depois, quando compunha. Uma inversão sem nada para verter.

Mas uma certa matemática estaria lá. Um rascunho da visão. A esferográfica é capaz de traçar mais de vinte troços paralelos. Sei que o não são. Na minha álgebra não passam de vigas que suportam as telhas, mas também as telhas suportadas pelo vento. Tudo em vão.Não é, de facto, o desenho que deixa à mostra. É o que eu vejo. Foi para isso, afinal, que criei estas cidades. Para que nunca tivesse sequer que falar delas.