A tartaruga e outro animal qualquer

Poesia José Ricardo Nunes

A tartaruga e outro animal qualquer.
Ou nem sequer bichos,
tudo mais simplificado,
imune à quebra das linhas.
E tentas desfazer o ritmo.

Sabemos que isto se vive em silêncio,
ninguém à escuta
a não ser talvez o meu pai,
antes dele o teu pai.

Corremos desenfreadamente
para tomar a dianteira
mas frequentemente é o tempo mais rápido
do que qualquer um de nós,
quero dizer, eu, tu, o meu pai,
o teu antes dele,
as nossas mães.

Ignoras a quantas pulsações por minuto
se desencadeia, mas todas as coisas
mudam de cor e mudam de forma
à tua passagem, quando eu passo
todos os lugares mudam de lugar.

O meu pai e antes dele o teu,
a minha mãe, a tua mãe,
esperam que cruzemos a meta.
Também eles mudaram tanto.

A caveira do meu pai,
a mais sorridente,
descaiu para a esquerda.
A tua mãe brilha ao Sol. 

Ninguém quer saber da lebre
ou de outros animais, alguns bem mitológicos.
O ritmo da tua passada
é um assunto que só a ti diz respeito
e, vá lá, também um poucochinho a mim.