Jogo grave

Poesia José Emílio-Nelson

PÂNICO

É belo como coral, é da fealdade por matar. 
(Cala e esconde,  
Sonega,
Encafua,
Solapa.)
Sem que se perceba, até aí inerte, 
Antenas embelezam as suas esferas suspeitosas.
É pestilento?, não há nisso odores pestilentos. Rasteá-lo? Rastreá-lo? 
Qual a expectação da nossa imunidade?
Mísero, confundido, sei que é fauce castigadora, lá onde está, nos proíbe de colher a rosa, o tom violeta do cardo, entre outras proibições, proíbe.  
Sem que se perceba, não mais a vês afadigar-te, não a vês perder perfume, pacientemente, num mundo estranho.
A contaminação encaminha-nos para o campo-santo. E o Pânico para pensar a morte iminente.


INFAME

Em desespero, a mão do Relâmpago que varre o Mundo 
Não lava e acende ou ofusca as nossas lágrimas.
Os que a esperavam sabem agora do tormento que os ceifa e os sepulta.
É uma mão benéfica a da beneficência? (A do desígnio?)
A punição dos céus, agrura mais cruel, bárbara, mede-nos pelo espinhoso percurso da idade.
Com tanta desgraça, a mão que resta nos redime deixando-nos mais humanos.


JOGO GRAVE

A Obscuridade e a Luz jogam infames,
Apostam a Vida.
Da Obscuridade todo o negrume desliza.
Não se distingue da Luz, nem da Luz o anoitecer enegrecido quando a Luz pisa a luz
E em tensão dramática se anulam.
Combinam, simultaneamente perdem.