Dois poemas de Rainer M. Rilke

Poesia Sandra Filipe (tradução)

Buddha

Als ob er horchte, Stille: eine Ferne …
Wir halten ein und hören sie nicht mehr.
Und er ist Stern. Und andre großen Sterne,
die wir nicht sehen, stehen um ihn her.

O er ist Alles. Wirklich, warten wir,
daß er uns sähe? Sollte er bedürfen?
und wenn wir hier uns vor ihm niederwürfen,
er bliebe tief und träge wie ein Tier.

Denn alles, was uns zu seinen Füßen reißt,
das kreist in ihm seit Millionen Jahren.
Er, der vergißt was wir erfahren
und der erfährt was uns verweist.

Buda

É como se ele ouvisse o silêncio: uma distância…
Suspendemo-nos e já não o ouvimos.
Ele é a estrela. E outras grandes estrelas,
Que não podemos ver, ali estão à sua volta.

Oh, ele é tudo. Esperamos, verdadeiramente,
Que ele nos veja? Que deseja ele?
Quando nos prostramos diante dele,
Permanece profundo e sereno como um animal.

Pois tudo o que nos impele para os seus pés 
gravita à sua volta há milhões de anos.
Ele esquece o que sabemos
E sente o que renegamos.


Liebeslied

Wie soll ich meine Seele halten, daß
sie nicht an deine rührt? Wie soll ich sie
hinheben über dich zu andern Dingen?
Ach gerne möcht ich sie bei irgendwas
Verlorenem im Dunkel unterbringen
an einer fremden stillen Stelle, die
nicht weiterschwingt, wenn deine Tiefen schwingen.

Doch alles, was uns anrührt, dich und mich,
nimmt uns zusammen wie ein Bogenstrich,
der aus zwei Saiten eine Stimme zieht.
Auf welches Instrument sind wir gespannt?
Und welcher Geiger hat uns in der Hand?
O süßes Lied.

Canção de Amor

Como impedir a minha alma de tocar a tua? 
Como erguê-la acima de ti rumo a outras coisas?
Oh, como desejo escondê-la num canto escuro,
Num lugar ermo e silencioso que permaneça quedo
Quando o teu imo se sobressaltar.

E, no entanto, tudo o que nos toca, a ti e a mim, 
Liga-nos como o arco de um violino 
Extraindo uma só voz de duas cordas.
Contudo, a que instrumento pertencemos?
E que violinista nos tem na mão?
Oh, doce canção.